A origem do Mal (Parte 3) Pela visão do Budismo e do Hiduísmo.
- Aldo Contini
- 7 de fev. de 2019
- 6 min de leitura
Atualizado: 30 de mar. de 2024
Depois da Origem do mal - Parte 1 e a Origem do mal - Parte 2 chegamos na 3!
E aqui não poderíamos deixar de fora outras religiões e/ou filosofias de vida como a Budista e a Hinduísta, vamos então ver como é a ideia de "mal" e compreender isso melhor pela ótica destes. Suas crenças, reflexões e teorias vem ultrapassando os milênios. Não é de se espantar que eles tenham tantos adeptos.
Origem do mal - Budismo - "Não ser mal é responsabilidade sua".
É muito difícil falar do "Mal" sem entender um pouquinho da ideia de Deus para os Budistas (lembrando que Buda não é Deus). Então vou levantar uma ideia breve de como eles lidam com a crença em um só Deus para então compreendermos a sua ideia de "Mal". Vamos lá?
Então... os budistas (assim como alguns Filósofos) negam os deuses mas aceitam a existência de um "ser universal", o qual é "o todo em si mesmo", "uma só substância onde todos somos e estamos". Fazendo uma breve comparação com o Cristianismo, isso rompe coma ideia de um Deus onipresente (aquele que está em todos os lugares na missão de nos vigiar e tal).
Esse Deus/Ser "uno" é a própria experiência junto com você e está diretamente ligado à natureza e à matéria, logo, um Deus metafísico (além da matéria) é inconcebível. Levando isso em consideração, entendemos então que: O mal como força externa é também estranho ao budismo, isso nos faz entender que o mal não é fruto do pecado porque não há nenhuma "sedução", nenhuma influência externa que faça o homem tomar más decisições, então, chegamos ao entendimento que o mal é originado no próprio homem.
Ufa..demos um grande passo aqui né?...mas vamos continuar...
Então levando isso em consideração o budismo vai dizer que o verdadeiro mal é criado por nós, surge da ganância, do egoísmo e da inteligência humana (ou falta dela). A origem do mal então está inteiramente no homem que raciocina e se dissocia da natureza.
O budismo vê a concepção de "Mal" de uma forma bem dualista, e diz que o mal é uma energia perversa e que existe desde que existe o bem, é como luz e sombra, pares que se completam (inclusive o contrário de Buda é Mara, o qual é seu oposto e de certa forma também se completam mas se for falar disso vai fugir um pouco do tema, se quiser saber mais clica aqui) e são as nossas escolhas que fazem a diferença (já falamos muito sobre o livre-arbítrio na Origem do mal parte 1 lembram?).
São bem interessantes no Budismo as reflexões constantes sobre o comportamento e atitude do homem perante o Mal. Vamos ver o questionamento abaixo para entender melhor o que quero dizer:
"Se para o budismo, o que é mal para você hoje pode não ser mal amanhã, então como se saber se o que estou fazendo é pelo bem"?
- Verfique se o que você fala, faz e pensa está fazendo com que o maior número de pessoas viva a verdade no caminho, se está desviando as pessoas do caminho é o mal.
Deu pra entender aqui como o mal é responsabilidade e escolha do homem? Inclusive há uma parcela de responsabilidade sua sobre as outras pessoas também.
O mal disfarçado de bem na humanidade...
É dito ainda pelos budistas que o mal penetra de maneira muito sutil nas vidas das pessoas e enganam as pessoas, fazendo parecer causar o bem mas está causando muito mal. Vamos à um exemplo classico que ilustra isso muito bem: "o Holocausto e sua ideia de purificação da raça"
Na visão dos nazistas, o holocausto seria para o bem da humanidade.
Aqui o budismo quer dizer que: na mente dessas pessoas mais violentas e mais terroristas há uma preocupação muito grande com você... eles agem com a ideia de estar fazendo o bem ao mundo, porém, essas pessoas querem mudar tudo em você, por exemplo: a comida que você come, a roupa que você usa, o partido politico que escolheu, etc... e na cabeça deste indivíduo é tudo para o seu bem.
Estes tiranos, podem até te matar por achar que você é um mal para a humanidade, por não se encaixar nas suas crenças, ideias, escolhas e padrões, então, para eles, você deve ser destruído porque o mundo pode ser corrompido pelo seu pensamento.
Eis o mal disfarçado de bem. Interessantíssimo né?
Vamos usar o budismo para refletir então...
Será que meus pensamentos, ações e palavras estão ajudando cada vez mais a humanidade a crescer em seu potencial ou o que eu faço está disfarçado de mal?
Será que as coisas que faço é por repressão ou retaliação somente porque algumas pessoas pensam diferente de mim?
Será que vou chamar de mal, todos aqueles que não concordarem comigo?
Fica a reflexão.
Somente para endossar a ideia de Deus do Budismo, encontrei no Grande filósofo do século XII Baruch Spinoza uma ideia de Deus bem parecida, vale a pena assistir:
Bom, pra não se estender muito vamos ficar por aqui e vamos para a região de onde nasceu o Budismo....
O Hinduísmo - " A raiz de todo mal e sofrimento é a ignorância de quem nós somos ."
Aqui a ideia é bem direta e facil de entender, o hinduísmo vai afirmar: Não há nenhum bem e nenhum mal. Não há um ser bom e onipotente que elimine completamente o mal”. Por serem politeístas, entendem que seus deuses tem características humanas, por isso, nada de onipotência, o deus único para o Hindús é interior e pessoal.
Para essa religião, bem e mal está na perspetiva limitada da nossa própria realidade. Depende da perspetiva do nosso ego. Em cada situação concreta há somente o necessário e o desnecessário. O Hinduísmo ainda vai dizer que para nós seres humanos, células cancerosas são criaturas más, porém, não nos lembramos que as células cancerosas são uma forma de vida perseverando em sua existência, em seus direitos próprios que tentam se multiplicar, exatamente como nós fazemos para nossa espécie. Para nós eles são do mal, mas apartir da perspectiva deles, eles são bons tentando se alimentar do nosso corpo.
"Para seres humanos os mosquitos são maus porque espalham a malária e chupam o nosso sangue, porém da perspetiva do mosquito os seres humanos são maus porque envenenam seu ambiente e os assassinam em massas."
Segundo essa religião todas as criaturas da terra têm seu direito de viver e multiplicar como os seres humanos, desta perspetiva mais ampla se nós olhamos a vida não de nossa perspetiva egocêntrica limitada, mas sim, com uma visão macro da coisa, não há nem o mal e nem o bem absoluto. Isto é, na totalidade o universo é perfeito, o problema está simplesmente em nossos interesses parciais, nesses interesses há imperfeições e isso chamamos de mal.
Sendo assim, quem está certo? seres humanos? células cancerosas? Os mosquitos? A resposta é:
O mal é não entender que nem sempre o que é mal pra você é mal pela perspectiva do outro lado.
Então agora o que decide o que é certo e errado? 🤷♂️
A situação decide. Toda situação é um desafio que exige a resposta correta. Por exemplo, os problemas no mundo são criados pelas pessoas que estão cheias de seus próprios desejos e medos, isto é, eles têm seus próprios problemas. Quando você faz a escolha certa, o desafio foi superado e o problema acaba. Se a escolha for a errada, o desafio não é superado e o problema permanece não solucionado.
Dos problemas não solucionados é que se constitui o Karma ( refere-se ao efeito que nossas ações geram em nosso futuro, tanto nesta como em outras vidas, após eventuais reencarnações) e faz da evolução do ser o propósito da vida.
Diferente de outras religiões como a judaico-cristã e a islâmica, o hinduísmo não especifica nenhuma força maléfica central, mas reconhece que as pessoas podem realizar atos de maldade quando dominadas temporariamente por entidades conhecidas como asuras. Rahu teria uma característica mais próxima do Diabo dos cristãos, se bem que Vishnu encarna para destruir o mal quando ele se torna muito forte. Ideia diferente da grande maioria né?
Então, pra finalizar, entendemos que a vida aqui é conduzida mais uma vez pela escolhas certas, se fizer escolhas erradas o Karma vai concertando durante as reencarnações. Nas escolhas erradas está o mal e a origem do mal está na perspectiva pessoal de cada um. Olha...essa parte da perspectiva eu achei muito interessante e peculiar, o caminho é sermos menos egoístas e mais empáticos para o Hinduísmo, uma lição para levar pra vida.
Aqui finalizamos mais um post, semana que vem vamos abordar a visão da religião Espírita.
Sinto que a cada novo texto vemos muitas religiões e teorias filosóficas se completam sobre esse tema, fazendo as coisas ficarem ainda mais interessantes.
O importante é nunca parar de questionar e buscar um mínimo de informação para ajudar nas nossas tentativas de compreensão, não que vamos encontrar... Mas a busca é muito legal.
Obrigado e até semana que vem! 🧐
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