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A Origem do Mal (Parte 2) Pela visão moral, política e um pouquinho da visão psicológica.

  • Foto do escritor: Aldo Contini
    Aldo Contini
  • 31 de jan. de 2019
  • 8 min de leitura

Atualizado: 30 de mar. de 2024


O mal é um conceito de difícil explicação, mas nada que impedisse nossos filosofos de encontrar suas teorias dentro da razão ou outros meios . Aqui, tentando deixar a metafísica um pouco de lado, vamos passear pelos tempos e tentar absorver as ideias de Imanuel Kant (1724 - 1804), Hanna Arendt (1906 - 1975) e Ernest Becker (1924 - 1974). Não

esqueçam também de ver a Origem do mal - Parte 1, é só clicar aqui!


 


Emmanuel Kant (1724 - 1804, "Se não fosse a escolha em ser mal, o mal não existiria").





Para este grande filósofo, a origem do mal está no homem e ele nasce porque o homem é afetado por coisas do mundo, fazendo com que esse afeto faça ele compreender se reagir bem ou mal, mas ele só se torna mal por sua própria escolha, ou seja o mal é escolhido para a satisfação própria da pessoa que decidir agir.


O Homem é por essência bom, mas o mal existe por uma questão de liberdade e arbítrio, logo, a possibilidade do mal está ligado à humanidade de modo inseparável.


Esse afeto do mal pode acontecer de forma: Racional - quando se é afetado e se faz as escolhas de acordo com o arbítrio, ou Temporal - um mal ocorrido por causa natural, que interfere na escolha racional.


Há também a possibilidade de a escolha de "o mal" ser decidida no seu estado de inocência, ou seja, já é parte do seu comportamento moral, já está em você, é o seu primeiro impulso quando tem que decidir por um ou outro.


Sabendo-se que o dever do homem é ser melhor, escolher ser mal é uma trangressão da lei moral como mandamento da razão. No entendimento de Kant, o mal moral tem origem quando o homem deixa de tomar a lei moral como motivo suficiente de determinação de sua vontade – que, segundo ele, ela é “o único motivo incondicionalmente bom”.


A escolha do mal está sempre passando pelo mal moral (a escolha pelo mal e suas consequências no mundo) e o amor de si (quando só se reconhece o benefício próprio e se ignora o possivel mal nessa decisão). O fato do homem não poder suprir os dois completamente ao mesmo tempo, o fará escolher por um. Caso não estejam em contradição entre ambos, logo as escolhas serão conduzidas ou por dever ou por intenção egoísta.


Kant também irá descorrer sobre as pessoas que querem o mal pelo mal e vai dizer que: O portador de uma vontade assim, seria um ser diabólico; mas esse, como bem observou Kant, não pode ser um atributo do homem enquanto agente moral. Para Kant, o conceito de um ser que faz o mal pelo mal, não é aplicável ao ser humano, exatamente pela rejeição intencional da lei moral.


Outra reflexão interessante... Quando ele subordina o desejo de satisfazer o amor de si à lei moral, ele se torna um homem bom; mas quando ele subordina a lei moral ao desejo de satisfação do amor de si, ele se torna um homem mau.


Assim, ainda sem chegar à uma conclusão definitiva, devemos tirar o chapéu para suas teorias de cunho moral. O que mais gostei foi ele separar a nossa compreensão de "mal" entre a lei moral (o bem que deve ser feito pela lógica) e o do amor de si (que faz com que escolhamos o que é melhor pra nós, esquecendo de qualquer possível mal para os outros). Aqui podemos refletir....


Será que sempre pensamos em nós em primeiro lugar?


Já fui mal para alguém por ser egoísta?


Fica a reflexão... ;)

 


Hanna Arendt (1906 - 1975, "O mal e sua banalização").





Para essa filósofa e politica Alemã de origem judaica, o mal não é uma categoria ontologica, não é natureza, nem metafísica. É político e histórico: é produzido por homens e se manifesta apenas onde encontra espaço Institucional para isso. A trivialização da violência corresponde, para Arendt, à execução automática de tarefas do burocrata moderno, razão de uma escolha política e ao vazio de pensamento, é aí onde a banalidade do mal se instala, faz a gente entender que a rotina implantada pelo totalitarismo nos leva a ignorância e por consequência a banalização do mal.


O tema do "mal", em Arendt, não tem como pano de fundo a malignidade, a perversão ou o pecado humano. A novidade da sua reflexão está justamente em evidenciar que os seres humanos podem realizar ações inimagináveis, do ponto de vista da destruição e da morte, sem qualquer motivação maligna. O pano de fundo do exame da questão, em Arendt, é o processo de construção da sociedade e da natureza artificial que estamos nso inserindo sem perceber, e isso acontece por causa da massificação, a industrialização e a burocracia das decisões e das organizações humanas que vem acontecendo durante os anos até aqui. O mal é abordado, desse modo, na perspectiva ético-política e não na visão moral ou religiosa.


Observando a violência causada pelos governos totalitários, entendeu que o domínio total é mais opressor que a escravidão e a tirania, é mais destruidor que a miséria econômica e o expansionismo territorial, e disse ainda: “talvez os verdadeiros transes do nosso tempo somente venham a assumir a sua forma autêntica – embora não necessariamente a mais cruel – quando o totalitarismo pertencer ao passado”. Vejo bastante sentido nisso...


Indo de encontro com a teoria de Kant (sobre a escolha do mal para a satisfação de si) Hanna Arendt diz que o mal existe por diferentes motivos, como por exemplo, ganância, avareza, ressentimento, desejo de poder e covardia. Assim, a busca de satisfação do amor de si não explicaria a totalidade do mal.


A sua conclusão de banalidade do mal nasceu da cobertura do Julgamento de Adolf Eichmann (um dos principais organizadores do Holocausto), onde ela disse:

"Estamos diante de um tipo de mal sem relação com a maldade, uma patologia ou uma convicção ideológica. Trata-se do mal como causa do mal, pois não tem outro fundamento".

O praticante do mal banal não conhece a culpa. Ele age semelhante a uma engrenagem maquínica do mal. O mal banal parece ser um fungo, cresce e se espalha como causa de si mesmo, sem raiz alguma e atinge contingentes enormes das populações humanas em diversos lugares da terra.

Eichmann, segundo Arendt, agiu igual ao cão de Pavlov, que foi condicionado a salivar mesmo sem ter fome. Ele não praticou o mal motivado pela ambição, ódio ou doença psíquica. Nada disso foi encontrado em Eichmann. A única coisa que chamou atenção de Arendt foi a sua incapacidade de pensar. Ao renunciar ao pensamento, Eichmann destituiu-se da condição de ser dotado de espírito que lhe possibilitaria o descondicionamento e, assim, dizer: não, isso eu não posso. Apesar de toda essa visão sobre esse caso, Eichmann tinha conciência do efeito dos seus atos, e por isso foi julgado à forca. Seria isso pagar o mal com o mal, ou justiça?


Arendt ainda nos leva a a crer que a incapacidade de pensar (que nos priva da responsabilidade) seja também uma possível originadora do mal:

"O que estamos fazendo quando estamos pensando? Sua preocupação consistia em indagar como podemos, sem nos afastarmos do mundo ou transcendermos a ele, retirar-nos apenas o bastante, ou seja, ter a distância necessária para chegar à compreensão. Outra pergunta daí resultaria: é a capacidade de pensar que nos faz distinguir entre o bem e o mal"?

"O praticante do mal banal renuncia à capacidade pertencente aos humanos de mudar o curso das ações rotineiras através do exercício da vontade própria."


Achei a visão do mal como causa política realmente incrível, e vocês? Vi aqui muitas referências ótimas, por exemplo, quando ela fala da incapacidade de pensar, isso não é nada mais que "escolher ser ignorante", e quando você é ignorante não é responsavel e daí fazer o mal lhe parece mais aceito.

O mal praticado pela ignorância te tira a sensação de culpa. Ainda vamos ver que a ignorância é o pano de fundo para a maldade em outras religiões.



 

Ernest Becker (1924 - 1974, "O mal é consequência da necessidade de negar a morte")






Achei interessante incluir esse autor por causa da versão do mal ser proveniente do medo da morte, uma ideia mais psicológica e que foge um pouco das duas ultimas abordagens, mas não menos curioso. Vamos ver qual é a ideia...


Segundo Becker o medo da morte é a instalação do terror nas bases psicológicas do homem, sugeriu ser o medo da morte e a sua negação, serem fatos fundamentais e universais para toda atividade da vida humana, icluindo as más.

Assim, na busca pela transcendência, a humanidade cria símbolos, que a distancia cada vez mais da percepção da sua realidade enquanto espécie. O mal então, aparece devido ao surgimento da violência e da aniquilação humanas, que nascem dessa dinâmica de negação da mortalidade.


A dinâmica do mal é devida fundamentalmente à negação da condição de criatura


« Segundo Otto Rank (Um psicanalista em que Becker se espelhava), a dinâmica do mal é a tentativa de fazer o mundo ser diferente do que é, de fazer dele o que ele não pode ser, um lugar livre de acidentes, um lugar livre de impurezas, um lugar livre da morte.»


Parece complicado de entender à primeira vista, mas vejo aqui uma abordagem bem interessante, nos faz pensar, sobre essa "neura" de negar a morte né? Quantas obras sobre imortalidade e fonte da juventude já foram feitas? Produtos para retardar o envelhecimento que existem? Quantos símbolos inventados afim de representar um sentido pra passar dessa pra melhor etc, etc... Isso prova que há uma nova linha muito palpável para refletir sobre a origem do mal.


Ainda refletindo sobre isso, será mesmo que fugimos da realidade de que vamos morrer e que essa atitude nos põe em uma situação de nos sentirmos injustiçados? (tipo, pra que ser bom se vai acabar mesmo e não tem sentido nisso tudo?). Daí, a revolta por essa conciência nos aproxima da decisão de sermos maus ou bons?

A conciência do limite da nossa vida faz algumas pessoas perderem a noção de bom senso, maldade, egoísmo, ganância, entre outras características necessárias para o uso da escolha entre bem e mal? Aqui eu concordo e não posso negar que a questão da morte é sempre complicada de se digerir, mas se isso origina o mal eu ainda não consigo associar muito bem.



 

Mais informações sobre o mal...






Na Wikipédia..... Mal (do termo latino malu) geralmente se refere a tudo aquilo que não é desejável ou que deve ser destruído. O mal está no vício, em oposição à virtude. Em muitas culturas, é o termo usado para descrever atos ou pensamentos que são contrários a alguma religião em particular, e pode haver a crença de que o mal é uma força ativa e muitas vezes personifica na figura de uma entidade como o diabo, satanás ou arimã.



Já o dicionário diz que...


mal (latim male) substantivo masculino

1. Tudo o que é oposto ao bem.

2. Infelicidade, desgraça.

3. Calamidade.

4. Dano, prejuízo.

5. Inconveniente.

6. Imperfeição.

7. Ofensa.

8. O que desabona.

9. Aflição.

10. Doença.

11. Lesão.

advérbio

12. Não bem.

13. Imperfeitamente.

14. Pouco; dificilmente; escassamente; apenas.

15. Severamente.

16. Com rudeza.

conjunção

17. Logo que; assim que.



 

Aqui finalizamos o post dessa quinta, na próxima semana será a terceira parte sobre a origem do mal, dessa vez pela ótica do Budismo e Hinduísmo.

Fiquem bem e até o próximo post. Questionem sempre e até mais!


Aldo Contini.



1 comentário


Aldo Contini
Aldo Contini
04 de fev. de 2019

Fiquem a vontade para criticar, discutir, dar opnioes e enriquecer esse artigo. Obrigado!


Aldo Contini.

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