Qual o caminho para a Felicidade? Teorias filosóficas- Hedonismo, Epicurismo e Estoicismo.
- Aldo Contini
- 7 de mar. de 2019
- 8 min de leitura
Atualizado: 30 de mar. de 2024
Aqui vamos falar de três das doutrinas, escolas ou teorias filosófico-morais super antigas (pelo menos 3 séculos antes de cristo) e super importantes que arrebanhou seguidores a fim de dar um sentido para uma “vida boa”, elas são: O Hedonismo, Epicurismo e Estoicismo.
A ideia de conduta moral de uma ”vida boa” é algo que sempre foi buscada por vários filósofos através dos tempos, isso nos rodeia até hoje e creio que vai nos rodear sempre independente de qual cultura, o tempo na história, as tendências e a sociedade que estamos inseridos.
Sabe aquela pergunta que já fizemos para nós mesmos? Tipo:
Qual a receita da “vida boa? E, qual o caminho para a felicidade?” sempre vai existir. E hoje vamos trazer alguns exemplos que se mostram muito atuais e por vezes necessárias.
Quem sabe você se identifique com uma delas? Vamos ver?
Hedonismo - "Deve-se procurar o prazer e fugir da dor"

Aristipo de Cirene (435-335 a.c.), amigo e discípulo de Sócrates criou o Hedonismo (do grego hedonê que significa: prazer). Essa doutrina que tem como principal característica a busca pelo prazer.
Sabe aquela ideia de usufruir de algo que te dê prazer até seu esgotamento e então descansar ociosamente depois disso? Então... é isso, não importa se é com comida, sexo, jogos etc...o que importa é o prazer do corpo, isso é o que interessa aqui.
Eles entendem que a alma humana tem dois estados principais: o prazer (felicidade) e a dor (tristeza), logo, seguindo esse raciocínio, foi entendido que quanto mais prazer, menos dor, e essa seria a única maneira de conquistar a felicidade, chegam a dizer até que o prazer do corpo é o único sentido da vida.
Pregam ainda que quanto mais intenso e duradouro for esse prazer, melhor, mais sentido a vida tem.
Da pra perceber que não há um filtro moral muito exigente aqui, porque eles acreditam que a vida quando acaba, acaba sem ter sentido algum, não acreditam em um Deus, o que facilita a aplicação dessa ideia. Também vale afirmar que é muito condenado pela doutrina Cristã.
Desta teoria surge na modernidade o “paradoxo do Hedonismo” que vai rebater a ideia de que o Hedonismo é autossuficiente nessa busca pelo prazer (ou diminuição da dor), motivo maior é a compreensão de que não se poder conquistar o prazer diretamente e sim indiretamente, porque o prazer não depende de você e que quando se busca isso geralmente fracassamos como podemos ver nesta frase do filósofo e economista John Stuart Mill em sua autobiografia:
"Mas eu então pensei que esse fim [a felicidade] só poderia ser atingido se não fosse colocado como o fim direto. Só são felizes (pensei) aqueles que têm suas mentes focadas em outro objeto que não a sua própria felicidade. [...] Mirando assim em outra coisa, acabam encontrando a felicidade pelo caminho [...]Pergunte a si mesmo se é feliz e deixará de sê-lo." ]
Podemos dizer que a civilização contemporânea é hedonista quando identifica a felicidade com a aquisição de bens de consumo: ter uma bela casa, carro, boas roupas, boa comida, múltiplas experiências sexuais. E, também, na incapacidade de tolerar qualquer desconforto, seja uma simples dor de cabeça, seja o enfrentamento sereno das doenças e da morte.
Podemos no video abaixo ter uma ideia resumida mas muito bem explicada pelo grande filósofo Luiz Felipe Pondé:
Epicurismo - "Viva o hoje e esqueça as preocupações do passado."

Criado pelo Filósofo Epicuro de Samos (400 a.c.) O Epicurismo diferente do Hedonismo procura o prazer com uma certa moderação, existe uma ética por trás do anseio pelo desejo, aqui vamos ver que a busca da felicidade está diretamente ligada à conquista de tranquilidade e da libertação do medo.
Desejos muito ambiciosos pode trazer a frustração e perturbações, ou seja, o contrario do que se busca que é a serenidade e a paz de espírito.
O prazer é algo necessário porém com equilíbrio.
Entendiam que a tão sonhada felicidade na sua melhor e mais elevada forma seria um meio termo entre a Ataraxia (estado de tranquilidade) e a Aponia (ausência de sofrimento).
Para os Epicuristas a liberdade, a amizade e tempo para filosofar eram os princípios para a conquista da felicidade, já a busca por poder e a posse de bens materiais não não tornaria as pessoas felizes, tudo isso não passava de uma ilusão de felicidade.
Ser feliz para esta doutrina é ter pleno domínio destes prazeres, o que pode ser alcançado com a compreensão da natureza dos deuses, da morte e dos desejos.
Compreensão da natureza dos Deuses:
Epicuro vai dizer que os Deuses existem, mas não estão preocupados com a gente, eles sequer tem consciência da gente. Por serem perfeitos não cabe imperfeição neles e/ou em suas consciências, logo, nossos destinos não são regido por eles e sim por nós mesmos, isso é um problema nosso e não devemos aceitar o que um Deus determinar.
Compreensão da morte:
A morte não é nada. A vida é sofrida por si só e a morte é a eliminação da vida, quem é sábio não deve temê-la. A morte nada mais é que o fim das sensações.
“Quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos”.
-Epicuro.
Compreensão dos desejos:
Desejos naturais e necessários: são os desejos que livram o corpo da dor da fome e da sede.
Desejos naturais e não necessários: são os desejos que surgem da vontade de variar, por exemplo o alimento ou a bebida, para variar também o prazer do corpo.
Desejos não naturais e não necessários: são os que nascem de uma opinião falsa sobre o mundo, incentivados por sentimentos de vaidade, orgulho ou inveja.
Deu pra perceber que tem lá suas semelhanças com o Hedonismo quando se trata do imediatismo de viver as sensações, porém as principais diferenças estão:
Na existência de uma ética a ser seguida, equilíbrio, controle dos desejos e desfrutar do prazer sem ser escravo dele. Isso sim, para os Epicuristas são as compreensões a serem alcançadas para ser feliz.
Estoicismo - "O sentido da vida consiste em estar de acordo com a natureza."

Zenão de Sitio (301 a.c.) fundou o Estoicismo, teve Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio como seus mais famosos seguidores e ensinava em sua teoria onde o que vale é o autocontrole e encarar com firmeza as emoções destrutivas que são despertadas pelas surpresas da vida.
Leva a ética, a física e a lógica para fundamentar suas ideias e buscar o comportamento ideal para uma vida feliz. Já dava dicas importantes sobre determinado comportamento e linha de pensamento, como as seguintes ideias:
"A virtude consiste em um desejo que está de acordo com a natureza"; "libertar-se da raiva, da inveja e do ciúme" e aceitar até mesmo os escravos como "iguais aos outros homens, porque todos os homens são igualmente produtos da natureza".
É assim que funciona, não sabemos o que vai acontecer, a natureza é que vai determinar sua vida e somos obrigados a seguir para onde a vida nos leva, somos regidos por um universo que determina e rege o todo.
Principais Pilares do estoicismo:
O universo é governado por uma razão universal natural.
O indivíduo deve negar os sentimentos externos.
Virtude é o único bem e caminho para a felicidade.
O prazer é um inimigo do homem sábio.
Valorização da apatheia (estar livre de perturbações).
Mas nada disso é possível sem a Resiliência, ou seja, persistir mesmo diante das adversidades da vida, que deve ser tranquila e isenta de sofrimentos. Já que temos que encarar as adversidades da vida que seja com paz de espírito e tranquilidade e não com dor e sofrimento. Passar pelos desafios da vida com total serenidade e firmeza de caráter.
Isso é desenvolvido com as perguntas: Quais seriam as atitudes e os comportamentos corretos para se viver uma boa vida? Qual a forma correta de viver a vida tendo como meta a felicidade? A resposta está em dois dos pilares do estoicismo que são: "A virtude é o único bem e caminho para a felicidade" e a "A valorização da apatheia" (estar livre de perturbações). Tá, mas como?
Os estoicos vão dizer que só se pode chegar a compreensão das coisas por meio da razão, só se pode assim chegar até a verdade (ou se aproximar dela). E fazemos isso entendendo que o sentido da vida é ser feliz, para ser feliz devemos entender que há uma organização cósmica e natural, ou seja, um logos, uma natureza, uma lógica racional onde afirma que nada acontece por acaso, o que faz a gente chegar a outro dos principais pilares da filosofia Estoica que é: "O universo é governado por uma razão universal natural". Devemos ter uma postura de aceitação diante da vida já que tudo tem uma lógica de existir alinhado com essa natureza.
Eles entenderam também que o Homem neste contexto é diferente dos demais animais, porque esses animais já tem um papel definido na natureza. O homem por sua vez, tem uma inteligência diferente e lógica e conseguir filtrar seus extintos, o que faz com que a natureza espere que usemos dessa inteligência diferenciada para amar o próximo e melhorar a vida social. Somos um ser social por natureza, devemos viver em sociedade e não no isolamento, porque isso trás a tristeza, o medo e o sofrimento ao homem. As pessoas que não agem assim é porque não entendeu e não atende a esse chamado da natureza e o certo é viver de acordo com ela.
O Estoicismo vai dizer também que as emoções devem passar pelo julgamento da razão. Vamos fazer um exercício aqui...
Vamos supor que estou triste porque estou preocupado com alguma coisa. Neste momento devo me perguntar:
Qual o motivo das minhas preocupações? O que me preocupa está sob meu controle? Aqui dividimos as coisas que dependem de nós para serem resolvidas e as coisas que não dependem de nós para serem resolvidas, as coisas que podemos controlar e o que não podemos mudar. É nesse momento que usamos a razão para dominar o que está sob nosso controle (como nossas emoções) e aceitar ou desapegar o que não é nosso, como por exemplo o que não controlamos (como os outros pensam ou agem). Aqui chegamos em outro pilar: O indivíduo deve negar os sentimentos externos.
Outro exemplo:
O que os outros pensam de você está fora do seu controle e você não pode mudar, certo? o que você pode mudar é o tipo de atitude e comportamento que tem diante disso. Vamos supor que você aja de determinada forma afim de fazer alguém mudar o que pensa sobre você, desculpe informar mas isso não é possível, isso se chama agradar e não leva a nada. Não está em seu poder controlar o que os outros pensam de você, logo, essa não deve ser sua preocupação, porque o conteúdo do pensamento dos outros não te pertence.
Abaixo temos outro video de Luis Felipe Pondé nos explicando com suas próprias palavras o Epicurismo e o Estoicismo. Vale a pena conferir.
E assim chegamos ao fim de mais um artigo sobre filosofia depois de um mês e meio estudando a Origem do Mal, espero que tenham gostado e talvez aprendido que o homem está tentando achar essa receita da felicidade não é de hoje!
De repente tenha dado uma luz para agirmos melhor e porque não encontrar o nosso próprio valor moral para, na pior das hipóteses, sofrer menos repensando nossas atitudes.
É isso aí, continuaremos nossos questionamentos na próxima semana. Até! 😉👍
Aldo Contini.
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